A primeira infância é o período que vai da gestação até os 6 anos de idade. Essa fase se divide em duas partes: a primeiríssima infância (da gestação até os 3 anos) e a primeira infância (dos 4 aos 6 anos). É na primeiríssima infância que a amamentação é mais importante. Segundo a pediatra Deborah Tockus, o Ministério da Saúde (MS) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) orientam que o bebê mame até os 2 anos, sendo que nos primeiros 6 meses de vida a alimentação deve ser exclusivamente do leite materno. Mas você sabe o motivo do aleitamento materno ser tão importante? E se eu contar que a amamentação não beneficia apenas o bebê, como também a mãe? E o que fazer quando a mãe não pode amamentar? Vem conferir!
Por que a amamentação é tão importante?
A Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar (IBFAN) aponta que o aleitamento materno pode prevenir a morte de 20 mil mulheres e 823 mil crianças por ano. Isso acontece porque, como diz a Caderneta de Saúde da Criança Curitibana, o leite materno é “uma verdadeira vacina” para o bebê: “A criança que não mama no peito tem maiores chances de ter alergias e infecções. A amamentação também ajuda a regular o apetite e desenvolve o paladar”, explica Deborah. No caso das mães, o ato de amamentar ajuda a diminuir o risco de desenvolver câncer de mama e anemia. Além disso, o uso de outros leites que não o materno geralmente acompanham cólicas, intestino preso, alergia alimentar e obesidade, completa a profissional.
Você sabe o que é amamentação em livre demanda?
O leite materno não previne apenas danos físicos, mas também emocionais. Isso porque os bebês não mamam apenas porque estão com fome, mas também quando estão angustiados, doentes ou com cólica. O ato de amamentar e segurar o bebê no colo oferece uma sensação de amparo e proteção à criança, que além de acalmar o bebê também reforça o vínculo entre mãe e filho.
Por essa razão, é importante estimular a amamentação em livre demanda. Isso significa amamentar quantas vezes a criança quiser, seja dia ou noite. Dessa forma, além de assegurar os benefícios, ajudará a mãe na produção do leite e o bebê a controlar a ingestão de alimentos, prevenindo a obesidade.
É o caso de Dandara Arruda, colaboradora da Passos da Criança. Através de leituras e acompanhamento, ela descobriu que a amamentação em livre demanda é a melhor forma de alimentar o bebê e fortalecer vínculos. Mas ela alerta sobre o cansaço causado por essa escolha, principalmente no início:
“O puerpério para mim foi o caos, porque era cansativo. Eu sempre tive uma rotina muito certinha de sono e de alimentação e no primeiro mês eu não tive isso. Então para mim foi muito estressante, foi muito difícil psicologicamente. Mas fisicamente ajudou muito com relação ao meu corpo, com relação ao meu filho. A saúde dele é muito boa. Então isso foi muito bom.”
Por isso, até hoje, com o filho já tendo completado 6 meses, ela continua a utilizar a livre demanda, pois percebeu o impacto positivo na sua saúde e na do bebê.
E quando a amamentação não for possível?
Algumas situações impedem que o aleitamento materno seja realizado. Mães portadoras de HIV ou em tratamento de quimioterapia, por exemplo. Alguns bebês também apresentam doenças que impedem que o leite da mãe seja digerido, precisando de leites especiais. Nesses casos, também é aconselhado procurar orientação médica. Dessa forma, segundo Deborah, as mães poderão ser orientadas quanto ao uso de leite de fórmula específico para a idade do seu bebê, diluição e frequência correta e volume que deve ser oferecido. A pediatra ainda sugere que nesses casos mães e pais fortaleçam o vínculo com o bebê dando a mamadeira em contato pele a pele, com o bebê junto ao corpo.
Quando a criança não apresentar nenhuma impossibilidade de ingerir o leite e não precisar de fórmulas especiais, uma opção é a utilização de um Banco de Leite Humano (BLH). São 222 unidades espalhadas pelo Brasil, que distribuem leite para bebês prematuros ou abaixo do peso. Para localizar a unidade mais próxima, disque 136 ou confira aqui. Para as mulheres com excesso de leite, é possível realizar a doação para contribuir com os BLHs. As orientações de como realizar as doações podem ser encontradas nesta página. Além da distribuição, os Bancos de Leite Humano também realizam atendimentos de apoio e orientação ao aleitamento materno.
Por que ter uma rede de apoio?
E é sempre importante lembrar a importância das redes de apoio quando a mulher não tem condições de prestar os cuidados necessários ao bebê ou não puder cuidar dele em tempo integral. “Nesses casos, o pai, amigas e familiares devem oferecer o máximo possível de carinho ao novo integrante da família”, recomenda a especialista.
No caso de Dandara, sua rede de apoio é composta principalmente pela mãe, que cuida de seu filho enquanto ela está no trabalho. “Eu fico muito mais tranquila com ele ficando na casa da minha mãe. Prefiro mil vezes deixar ele com uma pessoa que eu já conheço, que eu sei que ele vai ficar bem, do que deixar numa creche. Porque ele ainda não fala, ainda não consegue expressar todos os sentimentos dele. Então, para mim é super importante”, explica. A mãe de Dandara também prestou apoio durante a gestação, gesto que foi essencial e significativo.
Bicos artificiais: usar ou não usar?
Com a volta ao trabalho ou por dificuldades durante o aleitamento, algumas mães optam por utilizar a mamadeira durante a amamentação. Mas a pediatra Deborah Tockus alerta para os danos que esses tipos de bicos artificiais podem causar:
O céu da boca fica mais alto e curvado;
Os dentes se deslocam para frente;
A mordida fica mais aberta;
A língua fica mais pra frente ao falar, o que favorece a respiração pela boca.
Isso pode levar ao uso de aparelhos nos dentes, cirurgias pela malformação da boca e causar transtornos de fala, situações que não ocorrem quando a alimentação é feita através do aleitamento materno. Algumas alternativas são: a técnica do copinho, a seringa, o conta-gotas, a colher dosadora ou comum, o copo 360º e o corpo de transição com bico firme. Todas essas alternativas são seguras para o bebê, previnem problemas bucais e funcionam como substitutos da mamadeira, que só deve ser usada em último caso. O ideal é conversar com seu médico para descobrir o melhor método para você e seu bebê.
Tá na lei
Não se esqueça: amamentar é um direito. Seja no trabalho, na faculdade ou em outros espaços, esse direito deve ser mantido, assim como condições propícias para a amamentação. Confira os direitos de lactantes com mais detalhes a seguir:
Estabilidade Provisória: impede a dispensa sem justa causa da gestante, desde a descoberta até 5 meses após o parto. Sua regulamentação é feita no Artigo 10 da Constituição;
Realocação: “A empregada gestante ou lactante será afastada, enquanto durar a gestação e a lactação, de quaisquer atividades, operações ou locais insalubres, devendo exercer suas atividades em local salubre” (CLT, Art. 394-A);
Dispensa para consultas médicas: segundo o Art. 392 da CLT, estas são garantidas, sem prejuízo ao salário ou demais direitos da gestante;
Licença-maternidade: é o período de 120 dias em que a mulher fica afastada após ganhar o bebê. Deve começar a partir do vigésimo oitavo dia antes do parto e ser remunerado. Mães adotantes, ou seja, que adotaram filhos recentemente, também têm direito à licença-maternidade. Gestantes que trabalham no serviço público ou empresas que fazem parte do Programa Empresa Cidadã têm direito a 180 dias de licença-maternidade;
Amamentação: a mãe tem direito a dois intervalos de meia hora cada para amamentação durante o expediente, segundo o Artigo 396.
Conheça o projeto Primeiros Passos
Na comunidade Vila Torres, a Passos atende gestantes por meio de três eixos. O primeiro, Gestação em Harmonia, acompanha e presta atendimento às mulheres durante a gestação. O segundo oferece acompanhamento durante o puerpério, que tem duração de 45 a 60 dias após o parto. Por fim, o terceiro, chamado Primeiros Passos, que acompanha mães e bebês até os dois anos de idade. O projeto Primeiros Passos tem como objetivo auxiliar justamente no período da primeiríssima infância, quando a amamentação se faz mais necessária. Para isso, são realizados encontros para troca de experiências, encaminhamentos médicos ou para programas do governo e atendimento biopsicossocial. Assim é possível garantir mais tranquilidade e saúde para mães e bebês, oferecendo tratamento empático e com equipe multidisciplinar especializada.
Saiba mais
A Caderneta de Saúde da Criança Curitibana tem informações muito importantes e que podem auxiliar na hora que o bebê chegar, confira aqui. Para informações complementares, cheque as fontes usadas neste post.
Fontes
UNICEF
Mundo Educação
Pró Saúde
Saúde Brasil
Tua Saúde
Manual da Primeira Infância
Todos Pela Educação
IBFAN
GHZ Vida
Macetes de Mãe
Virginia Ferreira Saúde
Boletim Vacinas
Tudo Ela