É tão importante quanto a campanha do Outubro Rosa. ONovembro Azul é um movimento que tem o objetivo de conscientizar as pessoas. Principalmente os homens, sobre o câncer de próstata. Uma doença silenciosa que é o segundo tipo de câncer mais comum, atrás apenas do câncer de pele (não-melanoma), segundo dados do INCA (Instituto Nacional de Câncer). E um dos principais motivos para o alto número de óbitos é o tabu que foi criado em torno do exame, que é fundamental para diagnosticar e prevenir essa doença.
Estima-se que, só em 2020, foram mais de 65 mil novos casos (dados INCA) e mais de 15 mil mortes só em 2019 (dados do Atlas de Mortalidade por Câncer -SIM). Em valores absolutos, é considerado, em ambos os sexos, o segundo tipo de câncer mais comum. É considerada uma doença silenciosa. Por que pode crescer de forma lenta e sem sinais durante a vida, levando cerca de 15 anos para se desenvolver.
A campanha do Novembro Azul teve seu início no ano de 1999 na Austrália. Com um grupo de amigos que decidiram chamar atenção para a saúde masculina, deixando o bigode crescer. No Brasil, a campanha foi trazida pelo Instituto Lado a Lado pela Vida. Em parceria com a Sociedade Brasileira de Urologia. E a cada ano o movimento ganha mais adeptos e o preconceito com o exame diminui, mas ainda existe. E por que?
Novembro Azul: O Preconceito Mata
O preconceito é o grande vilão dos homens, quando no combate ao câncer de próstata. De acordo com o INCA, a principal causa das mortes é a cultura machista, aliada ao preconceito. Esses dois fatores fazem com que cerca de 90% dos homens brasileiros deixem de realizar exames preventivos. Essa resistência reduz as taxas de diagnósticos precoce. E consequentemente, a probabilidade de cura da doença. Uma vez que quanto antes detectada melhores são os resultados dos tratamentos para combatê-la.
Mesmo com tantas campanhas de prevenção, o mito que cerca o exame do toque, de que o mesmo afeta a masculinidade, ainda cerca a mente do público masculino. Muitos homens deixam de fazer o exame e se expõem ao risco da doença. Porém superar o preconceito e fazê-lo, passa a ter muito mais valor quando o que está em jogo é a saúde e a qualidade de vida. Movimentos como o do Novembro Azul, são fundamentais para quebrar esses tabus que impedem os homens de cuidar da própria saúde. Hoje em dia, pode-se afirmar que o câncer não é mais uma sentença. É uma doença que tem tratamento e pode ser curada, se descoberta precocemente e com recursos médicos.
Prevenção é o único caminho
A detecção precoce do câncer de próstata é uma estratégia utilizada para localizar um tumor em fase inicial, possibilitando maiores chances de realizar um tratamento bem sucedido. Essa detecção é feita por meio da investigação com exames. Nesse caso os exames são: o toque retal e o exame de sangue que avalia a dosagem do PSA (antígeno prostático específico).
Existem alguns fatores de risco que aumentam as chances de desenvolver a doença. Tais como histórico familiar, idade, sedentarismo e alimentação rica em gorduras. Além disso, a idade é um fator de risco importante. Visto que tanto a incidência quanto a mortalidade, aumentam significativamente após os 50 anos. Em fase inicial, o câncer de próstata tem uma evolução silenciosa. Muitos pacientes não apresentam nenhum sintoma, ou quando apresentam, são semelhantes aos casos benignos da doença. Na fase avançada, pode provocar dor óssea, sintomas urinários, infecção generalizada ou insuficiência renal.
Alguns hábitos são favoráveis para diminuir os riscos do corpo desenvolver câncer. Tais como alimentação balanceada, prática de exercícios regulares, cuidar da saúde mental, evitar ambientes poluídos, não fumar ou beber com moderação. Porém, nenhum desses hábitos diminui a importância da realização de exames periódicos para detectar o exame. É preciso que todos os homens sejam agentes da mudança de pensamento. Quebrando o preconceito e levando informação consciente para sua família, amigos e ambientes no qual transita. E até mesmo para crianças, que irão crescer mais conscientes, podendo impactar ainda mais pessoas durante a vida.
Quebrando Padrões de Masculinidade
A importância de quebrar os padrões deturpados da masculinidade se dá não somente para a prevenção do câncer de próstata, mas em vários sentidos dentro da sociedade. Culturalmente sabe-se da resistência que os homens têm de se expor, se abrir e conversar sobre isso. Para Francisco, psicólogo da OSC Passos da Criança, “isso já vem da própria criação, onde geralmente os filhos homens não têm muito espaço de fala de suas intimidades com seus pais, tios ou com outras pessoas na parentalidade familiar. E aí cria-se nesse processo cultural essa resistência”. Observa-se também um cenário dentro da organização de que existe uma baixa participação dos responsáveis homens pelas crianças atendidas, em que a taxa de participação chega a 6% apenas. Logo, essa questão não é somente interna, pois, se observar o universo escolar, essa também é uma realidade.
Em frente a este cenário, a OSC está abrindo uma roda de conversas. Um espaço onde homens irão conversar sobre temas que são tabus. A ideia desta roda, é quebrar paradigmas. Um local onde homens possam mostrar e demonstrar seus pensamentos e sentimentos, além de falar sobre isso com outros homens.
Cine Clube Passos
Para Rudinei Nicola, coordenador socioeducativo da Passos, “este recorte histórico de baixa participação, nos motiva a criar estratégias para debater e trazer os homens para dentro da ONG. Para além disso, nós como colaboradores, que hoje trabalhamos em um espaço predominantemente feminino, é importante olhar para nossos padrões institucionais, como nos vemos e nos colocamos como homens. Já sabendo dessa participação reduzida e dessa realidade, a ideia é estender o projeto e juntar não somente os colaboradores e pais. Mas também homens da comunidade para falar do íntimo, se ouvir, tendo o foco no EU homem.”.
Ele complementa dizendo que “a importância de estar falando sobre masculinidade, machismo, cuidado pessoal, sentimento, autoestima é justamente porque vivemos em uma sociedade fundada no patriarcado e no machismo. E eu sinto que ainda existe uma resistência. Pois, só de ouvir uma mulher falar de questões femininas como liberdade, os homens ficam reativos. Essa reatividade está dentro de um comportamento padrão, de uma cultura. Nós vamos falar dessa cultura, de dados e, juntamente com nossas observações de baixa participação na vida das crianças, indica e justifica a abertura e a importância desse projeto.”.
O evento, que se chama “Cine Clube”, foi aberto ao público masculino e aconteceu no dia 11/11/2021 às 18h na sede da OSC Passos da Criança. Foi exibido o documentário chamado “O silêncio dos homens”. E, após, foi aberto um diálogo para que todos pudessem debater sobre o assunto. Trazendo suas opiniões, reflexões e experiências à mesa, como um processo terapêutico. O filme é parte de um projeto que ouviu mais de 40 mil pessoas em questões a respeito da masculinidade. Assunto cada vez mais importante para repensarmos nossa sociedade. Homem: você tem medo de quê? Entre nessa, participe! Terão mais encontros e faremos a divulgação. Para mais informações, siga nossas redes sociais e entre em contato conosco.