A pandemia de COVID-19, além do triste e milionário número de mortes, vai deixar um legado preocupante na educação.
De acordo com a UNESCO – agência da ONU responsável por acompanhar e apoiar a educação, comunicação e cultura no mundo -a pandemia já impactou os estudos de mais de 1,5 bilhão de estudantes em 188 países – o que representa cerca de 91% do total de estudantes no planeta.
Aqui no Brasil, segundo relatório do Banco Mundial, dois a cada três alunos podem não aprender a ler adequadamente um texto simples aos 10 anos e 70% das crianças brasileiras podem não aprender a ler adequadamente.
O Banco Mundial destaca também o índice da “pobreza de aprendizagem”, analisado com base em estatísticas educacionais. Esse índice aponta o percentual de crianças com 10 anos incapazes de ler e entender um texto simples. A pandemia, segundo o levantamento, aumentaria esse índice para 70% dos alunos no Brasil, que já tinha 50% dos alunos em pobreza de aprendizagem.
Essas perdas correspondem a 1,3 ano de escolaridade, ou seja, o estudante teria o conhecimento de mais de uma série anterior a que é correspondente à sua idade. Com um tempo maior de escolas fechadas, a defasagem pode subir para 1,7 ano de escolaridade.
O IBGE aponta que, em novembro de 2020, mais de 5 milhões de meninas e meninos de 6 a 17 anos estavam sem acesso à educação no Brasil. Desses, mais de 40% eram crianças de 6 a 10 anos, faixa etária em que a educação estava praticamente universalizada antes da pandemia.
Provavelmente poucas pessoas ou praticamente ninguém imaginou que, em pleno século XXI, iríamos enfrentar um vírus que alcançasse essa proporção e que nos deixasse de mãos atadas, atingindo tantas pessoas.
O que ficou claro foi o despreparo de organizações de todos os setores para lidarem com a chamada “nova realidade” imposta pelo distanciamento e isolamento social. E os desafios invadiram também a área da educação, que expôs a falta de condições da comunidade escolar para utilizar a tecnologia como instrumento facilitador na aprendizagem.
Como a pandemia atingiu a educação
A maioria das escolas não conta com o suporte necessário para o oferecimento do ensino remoto ou a distância, principalmente, é claro, no ensino público. Um levantamento realizado com dados do Censo 2020 em 27 mil escolas públicas apontou que apenas 5.425 dessas instituições têm velocidade adequada para ensino híbrido ou capacidade para uma videochamada para aulas síncronas. Além disso, estudos do IBGE revelam que 4,3 milhões de estudantes entraram na pandemia sem acesso à internet.
Entre as dificuldades podemos citar ainda a falta de maturidade para as crianças, principalmente de educação infantil e Ensino Fundamental, para lidarem com a autonomia exigida nessa modalidade de ensino. Chamamos atenção também para o número baixo de professores que têm uma formação adequada para o ensino à distância, já que preparar e lecionar uma aula remotamente é muito diferente de uma prática presencial.
O impacto na educação das crianças de nossa comunidade
Na Vila Torres, em Curitiba (região atendida pela Passos da Criança), a dificuldade de acesso à internet e condições precárias de vida impactam a educação de nossas crianças.
Rudinei Nicola, coordenador socioeducativo da Passos da Criança, aponta ainda como um dos principais problemas a falta de acompanhamento no aprendizado em casa. “Os responsáveis têm dificuldades em acompanhar e apoiar as crianças na execução das atividades propostas pelas escolas, principalmente das crianças menores. Muitas vezes os integrantes das famílias apresentam um grau de escolaridade reduzido (70% dos familiares não têm o ensino fundamental completo)”. Além disso, Rudinei percebe que o mediador de conteúdo faz bastante falta no processo de aprendizagem. “As crianças viram meras ‘fazedoras’ de tarefa”, completa.
Para diminuir o impacto da pandemia, Rudinei diz que as crianças precisam de mais interação com as aulas e os professores, mas falta estrutura para isso tanto da parte da escola quanto dos estudantes.
Identificando essas questões, a Passos da Criança vem trabalhando para estruturar o que chamamos de “estratégia de desenvolvimento de aprendizagem”. “Nessa estratégia, mais do que aplicar tarefas, a gente pretende ajudar as crianças na realização das tarefas, o que faz uma grande diferença para elas e para as famílias.Pretendemos também em conjunto com as escolas propor ações que estimulem a criatividade e autonomia das crianças para estudarem e desenvolverem autonomia principalmente em leitura, escrita e interpretação de texto”.
O socioeducador defende que apenas entregar a atividade feita dentro do prazo determinado não garante o desenvolvimento intelectual da criança. “Estamos focando no atendimento individual para crianças que apresentam dificuldade na leitura ou execução de atividades utilizando a tarefa escolar como disparador para estudar os conteúdos. Aplicamos outras perspectivas de incentivo à leitura como contação de histórias e teatro.”
Se você quer ajudar a Passos da Criança a seguir levando cultura e conhecimento para mais de 60 crianças em situação de vulnerabilidade social em nossa comunidade, conheça as formas de doação em nosso site ou clique aqui para conversar com nosso time.